Hoje eu estava sentada sem nada para fazer a não ser olhar o
tempo passar, como borboletas passam pelo jardim, então resolvi escrever uma
crônica, mas me perguntei: Sobre o que irei escrever? Poderia escrever sobre
algo romântico, ou engraçado, até mesmo tenebroso, vi que assunto não ia
faltar, o que iria faltar era o interesse de quem iria ler sobre aquele
assunto, afinal existem muitos assuntos sem forma e muitas formas sem assunto,
e que servem para tudo exceto para serem chamados de assunto.
Ontem mesmo eu estava caminhando em busca de uma praça para
ler um livro e acabei encontrando com uma amiga, daquele tipo que arranja tempo
e assunto para tudo, principalmente se encontrar alguém para banhar os ouvidos de
palavras, tagarelice sem fim, muito assunto com poucas ideias e inúteis. Tentei
falar que tinha um compromisso que já estava mais que atrasada, mas quem disse
que ela me ouviu? De tanto tagarelar acabou entrando um mosquito na sua boca,
mas ainda assim não parou de falar, foi lembrar de uma vez que um tio dela
tinha se engasgado com uma espinha de peixe e que foram parar no hospital,
falou pigarreando devido o engasgo recente.
Chamei para sentar, afinal de contas já faziam quase 45
minutos que eu estava ali parada sem pronunciar uma palavra, apenas ouvindo,
imaginei que uma hora todo aquele assunto fosse acabar, ela iria se cansar ou
que iria se despedir porque teria que encontrar com alguém em algum outro lugar
que não fosse ali e nem comigo, meus ouvidos já estavam por um triz quando
aparece um colega da gente que por pura ironia do destino, este que queria ver
meu fim, também adorava falar sobre o que lhe coubesse e o que ouvisse, eles
dois ficaram conversando e de tão empolgados que estavam acabaram se despedindo
de mim e indo tomar um sorvete, quase que ia junto, só que inventei que estava
dieta e que tinha que manter a forma e acabaram misturando a despedida deles
com sorvete e dieta, foi depois de ontem quando meu ouvido virou “penico” que hoje
decidi não querer mais falar e sim escrever.
Até tentei escrever, mas escrever sobre o quê?
Resolvi sair novamente, torcendo para não topar com eles,
pegar um ônibus e andar pela cidade, afinal, as melhores das minhas poesias
surgiram dentro do ônibus, que era algo cotidiano, boas ideias sempre surgem no
meio da correria do meu dia-a-dia e aproveitaria para descansar meus ouvidos
com uma boa música no meu celular e ler. Nenhuma boa ideia surgira e tive que
voltar para casa, afinal já era quase noite, nem vi o dia passar, o entardecer
estava lindo não queria deixar de deslumbrar o entardecer só porque
simplesmente não arranjei um assunto para escrever uma crônica, sentei em uma
cadeira que ficava a minha espera na varanda e pude ver como é lindo o pôr do
sol, peguei lápis e papel e acabei tentando escrever sobre ele, mas foi uma
tentativa falha.
Acabei escrevendo sobre o meu fracasso ao tentar escrever
uma simples crônica por falta de assunto, mas acabei descobrindo uma coisa
fascinante: Não nasci para ser cronista! E desisti.